domingo, 27 de setembro de 2015

Veja a mágoa que Chicão sente pelo Corinthians, "Me Trataram como um..."

Chicão, magoado diz: "ME TRATARAM COMO UM..."


O duelo entre Figueirense e Corinthians, neste domingo à tarde, em Florianópolis, pelo Brasileirão, traz um ídolo em comum para as duas torcidas: Chicão. Com dez gols no campeonato de 2007 pelo clube catarinense, ele tem a marca do zagueiro com mais gols em uma só edição de Brasileiro. Isso chamou a atenção do Timão, onde depois fez parte da reconstrução na Série B, em 2008, passando pelo título brasileiro como capitão, até a glória máxima em 2012, com os títulos da Libertadores e do Mundial.
Em 2013, porém, ele comemorou os títulos paulista e da Recopa na reserva. Seu contrato não seria renovado, e a forma como foi tratado pela diretoria o chateia até hoje.
- Trataram um ídolo da torcida como qualquer um. Por ter aceitado aquele desafio de jogar a Série B, e depois ter conquistado tudo, acredito que faltou um pouquinho de respeito - disse ao LANCE! o zagueiro que, por sua vez, rasga elogios para Tite.
- Ele sabe comandar um grupo, sabe ganhar um Brasileiro. Eu acredito que, se o Corinthians mantiver as atuações recentes, não deixará escapar o título - aposta.
Após passagens por Flamengo e Bahia, o jogador de 34 anos decidiu arriscar-se no Dehli Dynamos FC, da Índia, comandado pelo ex-lateral e companheiro de Corinthians Roberto Carlos. Sua estreia será no dia 3 de outubro, contra o FC Goa, de Zico, Léo Moura e Lúcio.
Neste domingo, de longe, tentará acompanhar o duelo alvinegro pela televisão. Enquanto não definia o futuro, ele aproveitou para conhecer a Arena Corinthians com o filho e teve um dia de torcedor. Seu sonho é poder sentir mais o gosto como corintiano e comemorar muitos títulos. Quem sabe, mais um em dezembro...
Chicão foi ídolo do Corinthians, onde atuou de 2008 e 2013 (Foto: Miguel Schincariol)
Processo contra o Corinthians
Nesta semana, Chicão ganhou uma ação em segunda instância movida contra o Corinthians, que deve pagar a ele cerca de R$ 1,5 milhão. O valor refere-se a direitos de arena - diferença entre 5% e 20% relativo ao período que defendeu o clube, de 2008 a 2013.
- É um direito do atleta, do trabalhador. Se eu tenho esse direito, eu vou buscá-lo. Ninguém está rasgando dinheiro hoje. Em momento algum alguém do clube me procurou para conversar. Do jeito que eu saí do clube, nem deu. Ninguém me disse nada. Foi um "Muito obrigado e tchau". Lembra se teve homenagem para o Chicão? Não teve. Foi "Obrigado e tchau". Só fui procurar o que é meu de direito - justificou.
- Com relação ao clube, tenho um carinho enorme. Vida de jogador de futebol e rápida, curta. Como falei, ninguém me procurou para conversar em relação a isso. Se não fosse um direito meu, se fosse sacanagem, não faria - completou.
O julgamento ocorreu na última quinta-feira, na 35ª Vara Cível de São Paulo. Ainda cabe recurso ao time alvinegro, que vai apelar para o Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília.
CONFIRA A ENTREVISTA EXCLUSIVA COM CHICÃO:
Como vê esse duelo Figueirense x Corinthians?
Tenho carinho enorme pelos dois clubes. Pelo Figueirense, por ter me projetado para o futebol, por ter me proporcionado chegar ao Corinthians. Pelo Corinthians, por tudo que conquistei. O Figueirense sempre foi muito forte quando joga em casa, mas acho que o Corinthians vence. A equipe do Tite não tem um craque, mas tem um grupo muito forte. Pelo que vejo de fora, tem uma união muito grande. Tem tudo para conquistar o título, tem um treinador que dispensa comentários. Ele passou por situações difíceis no ano e conseguiu dar a volta por cima. Em 2011, precisávamos vencer lá para conquistar o título e vencemos. Joguei por dois anos no Figueirense, sei o quanto a cidade fica movimentada quando o jogo é contra um Corinthians ou Flamengo da vida. Acredito que será um grande jogo. Pela qualidade, acredito que o Corinthians vença. Tem um grupo mais preparado.
O Corinthians está com cara de campeão?
O Corinthians está colhendo os frutos que plantou. É uma equipe que passou uma situação difícil no começo do campeonato, oscilando muito, mas se arrumou. No começo da temporada, eles viveram um auge muito rápido, depois oscilou e agora retomou tudo novamente. Tem um treinador que sabe comandar um grupo, sabe ganhar um Brasileiro. Eu acredito que, se o Corinthians mantiver as atuações recentes, não deixará escapar o título. Em casa, por exemplo, essa equipe dificilmente perde. O Corinthians só depende dele. Está nas mãos e não pode deixar fugir. Acredito que essa parte de não deixar fugir cabe muito ao treinador, ele vai fazer com que esse titulo não escape. Brasileiro é um campeonato muito importante, são 38 jogos, a temporada é desgastante, dificilmente se mantém uma equipe motivada 100% o tempo todo. O Corinthians mostra motivação, busca o tempo todo a vitória, está toda hora brigando pelo título. Pelo fato de não conquistar um título desde 2013, sei que vão fazer de tudo para ganhar. Vejo esse grupo muito fechado para ser campeão.
Ainda se chateia pela saída do clube?
Não foi legal. Trataram um ídolo da torcida como qualquer um. Na Série B, muitos jogadores não queriam ir para o Corinthians. Hoje, que tem estrutura, todo mundo quer. Por ter aceitado aquele desafio de jogar na Série B, conquistado tudo, acredito que faltou um pouquinho de respeito. Eu me machuquei, o Gil entrou bem, mereceu, tanto que está na Seleção. Eu trabalhei do mesmo jeito. Mas quando me chamaram para falar da renovação, não foram corretos. A diretoria decidiu não renovar meu contrato e me chamaram na sala o Edu (Gaspar, gerente), Duílio (ex-diretor) e Roberto (de Andrade, atual presidente, na época diretor) e me falaram: "O presidente Mário Gobbi não quer renovar com você". Não tinha o que falar, não tinha volta. Foi simples, curto e grosso. Essa história que ofereceram seis meses ou um ano é mentira. "Chicão, o presidente não te quer mais". Vou fazer o quê?
Mas você procurou saber com o presidente se era verdade?
Não procurei falar mais, só ia me desgastar. Não sabia do interesse de outras pessoas, se precisavam que chegasse outro jogador, entende?! Percebi que não queriam mais, que não haveria mais clima. Nesse contexto, comecei a ver o meu futuro e surgiu o Flamengo, com contrato de um ano e meio. Saí em agosto, joguei até o fim de 2013 e todo 2014. Não pensei duas vezes. Se eu ficasse até o fim do ano, poderia estar desempregado depois e sem essa mesma proposta. No fim, em 2013, eu fui o único jogador que ganhou três títulos, dois pelo Corinthians e um pelo Flamengo. Sempre por onde passo conquisto títulos, graças a Deus.
Você não esconde sua mágoa...
Futebol é engraçado, ele mostra algumas coisas que nos fazem pensar. Olha o jeito que saí do clube. Em menos de dois anos, no começo desse ano, o Corinthians estava louco atrás de um zagueiro. É engraçado. Quando tinham na mão, não deram valor. Depois acontece o que aconteceu. A equipe hoje tem grandes jogadores na defesa. Mas eu só fico chateado em relação ao tratamento que recebi. Me dediquei ao clube por seis anos, abri mão de muitas coisas e não tive nada em troca. Pelo menos, o carinho do torcedor ainda é muito grande, eu ainda vejo nas redes sociais corintianos pedindo para eu voltar, agradecendo. Isso não tem preço.
Essa questão do tratamento ao ídolo ficou em evidência com a saída do Guerrero...
O Guerrero ainda teve a oportunidade de renovar. Eu, não! No meu caso, foi "Obrigado e tchau". Ele optou por não ficar por questões particulares, financeiras, achou que era melhor. A gente tem de respeitar, assim como o clube, que não tinha condição de arcar com o que ele pedia. Tem de entender as duas partes. No meu caso, não houve proposta, só um aviso.
Você fala do Tite e parece não ter mágoas com o episódio da barração no Brasileirão de 2011...
Com relação ao Tite, não aconteceu nada. Fiquei chaeteado com a diretoria por tudo que aconteceu. Perdemos o clássico para o Santos no domingo, depois a Gaviões foi ao hotel e eu, como líder, fui um dos que falaram com eles. Na terça, quando fomos para o treino, recebi a notícia de que não iria jogar o clássico contra o São Paulo, na quarta. Para mim, por estar no clube já há um tempão, sempre jogando, foi algo inesperado. Fiquei chateado, não pelo treinador estar errado, mas por eu poder estar rendendo mais. Eu não estava com cabeça para ir para o jogo, poderia atrapalhar. Foi só isso que eu pensei quando pedi para não ir para o banco. Tanto que, na quinta-feira, eu já estava treinando no CT. Tentei não só me preservar, mas também o clube. Só que a diretoria foi lá e vazou essa situação para todo mundo. Eu não gostei. Não vou citar nomes, mas aconteceu o mesmo com outros três jogadores do elenco e não saiu nada. Não entendi o porquê de terem vazado a minha história. Mas depois eu dei a volta por cima. Continuei trabalhando, respeitando todo mundo e voltei para o time. Tentaram criar uma polêmica e não foi nada disso. Fiquei chateado por não terem me preservado. Mas passou, acabei dando a volta por cima, conquistando meu espaço, títulos... Faço questão de falar que nada passou de um mal entendido.
Você, agora de fora, é um torcedor do Corinthians?
Claro que sim! Ainda irei muito ao estádio torcer, pode escrever! Este ano tive tempo e levei meu filho para nós conhecermos a Arena Corinthians, contra a Ponte Preta (o Timão venceu por 2 a 0, pelo Brasileirão). Foi muito bacana, foi uma sensação diferente. Lá dentro do campo é mais fácil do que estar fora. Dentro você vive o jogo. Fora, fica apreensivo, não sabe o que vai acontecer. Isso porque era um jogo qualquer, imagine final de campeonato. Torcedor fica mais ansioso do que o jogador. Mas foi legal, fui muito bem recebido pelos torcedores. Assim que parar, pretendo ir com frequência. 
Acha que a pressão é maior que a do Pacaembu?
A Arena é linda, com relação à belza, a gente não discute. Atmosfera é uma pressão enorme em cima do adversário. No Pacaembu, também era. Assim que o clube conquistar um título, as coisas vão melhorar. Eu tenho certeza de que o clube vai conquistar muitos títulos ali dentro. O fator campo conta muito, não dá para negar que a pressão lá é enorme. 
Deu saudades de comemorar um gol para a Fiel?
Lógico que dá saudades, não tem como. São momentos que dificilmente eu vou esquecer. Passar tudo que passei no clube...Acho que ninguém mais na história vai viver o que eu, Alessandro e Julio Cesar vivemos. Desde a Série B, treinando no Parque São Jorge, até hoje, com todos os títulos, estrutura... Nós, além do Marcelinho Carioca, somos os mais vitoriosos pelo clube. O Julio por ter vindo da base, eu e Alessandro como titulares e jogando mais... Pode ganhar mais títulos daqui para frente, mas dificilmente alguém terá uma história como a nossa. Tudo que vivi ali, estou colhendo hoje, de ter boas propostas, de ser reconhecido.
Como está a experiência na Índia?
Está sendo legal, estou gostando bastante, é um clube muito bacana, de pessoas simples, com objetivo bem claro de querer vencer. As pessoas são muito humildes, tanto no clube como na cidade toda. A gente vê um país que sofre muito com a situação financeira, andando fora do hotel vejo muita coisa que teriam de repensar no Brasil. Temos de começar a dar valor às coisas que temos, às oportunidades. Está sendo tudo muito bacana.
Acha que ainda poderia jogar em alto nível no Brasil?
Depende da comissão técnica. Hoje tem de saber lidar com o atleta com relação à parte física. Com 35 anos, que vou fazer ano que vem, não é que queira um tratamento diferente, mas tem de ter um cuidado melhor. A recuperação do atleta de 22, 23 anos, é muito mais rápida do que a de um com 35 anos. O rendimento cai. Depende muito disso, de trabalhar com uma comissão técnica que vai entender esse lado. O próprio Corinthians é exemplo, com jogadores como Danilo, Ralf, Jadson, que são mais experientes. Eles são preservdos em treinos e jogos para não acontecer uma lesão. Futebol tem muito disso. Tem de ter esse cuidado. Hoje você vê jogador com 22 anos tendo lesão muscular, não é só com o de 30, 35 anos que acontece isso. Para mim, tudo isso é culpa do calendário. Tem de treinar de segunda a segunda, jogos de domingo e quarta, não tem tempo de recuperação. Se houver uma comissão técnica que entenda isso, com certeza dá para render em alto nível. No Flamengo, o Luxemburgo me colocava três jogos para jogar, depois eu ficava no banco, entrava se precisasse... Rendi em alto nível, joguei Brasileiro, Copa do Brasil... Vai depender da comissão técnica. 
Qual clube o procurou para disputar o Paulistão?
Até por questão de ética, não vou falar o nome. Mas é uma proposta bacana, de um clube próximo da capital, estou analisando ainda. Vou estudar direitinho, tudo vai depender daqui, tem a situação da liga agora, estão tentando aumentar o tempo, o número de clubes... Pelo que soube, os estádios estão enchendo. Futebol não é o primeiro esporte aqui, mas está melhorando. Vou estudar o que fazer, tem tempo pra pensar. Não seria ruim também voltar e jogar pelo Mogi Mirim. Foi o clube que me revelou, onde passei muito tempo. Mas vou esperar para tomar alguma decisão.

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